[O Último Virtuoso] Capítulo 4 - Olhar Fatal
“Pensei que não fosse capaz de viver sem você. Hoje sei que com
você não havia vida.” Autor Desconhecido.
O que diabos essa mulher pensa que
estava fazendo? Ela ia cravar uma faca nas minhas costas e com certeza isso não
era brincadeira! Ela estava jogada no chão e me encarava com um olhar que a
entregava completamente. Eu já estava começando a entender e tudo fazia sentido
agora.
— O que pensa que está fazendo...
Mal terminei de falar e ela avança
pra cima de mim com a faca na mão. Seguro seu braço e acabo apertando com
força. Ela me dá um chute que quase atinge o meu precioso “amigo” e acho que acabaria
morto com uma facada se isso tivesse acontecido. Começamos um confronto dentro
do apartamento e várias coisas se quebraram no meio desse processo. Consegui
dominá-la e tirei a faca da sua mão.
— Você tá querendo me matar. Não
posso deixar que escape sem mais nem menos...
— Ora, ora... Acho que finalmente
descobriu, seu louco!
— Você sabe de alguma coisa e não
quer dizer.
— Quem sabe... Você vai me fazer
falar por acaso?
— Acho bom você falar, porque eu não
terei piedade em acabar com você..
.
Eu estava a segurando com muita
força e ela começa a fazer um escândalo digno de show com pista, camarote e
tudo mais. Curioso é que algo dentro de
mim me impulsionava a não me importar com isso. Essa mulher ia me matar. Porque
eu teria que ter piedade de um ser humano tão desprezível como esse? Aliás, que
com certeza estava mancomunada com quem me fez tão mal... Ela merecia ser
eliminada...
— Me solta seu louco! Assassino da
própria mãe!
Essas palavras doeram lá no fundo da
minha alma. Ela olha profundamente nos meus olhos e sinto o meu corpo reagir de
uma forma estranha. Eu a olhei com uma sensação de auto defesa.
Volto
ao meu consciente e a solto imediatamente.
— A carapuça serviu agora, não foi? —
dizia isso enquanto se levantava e ia direto pro interfone — Sai do meu
apartamento agora e nunca mais me procure. Se não fizer isso eu aviso o
porteiro e peço pra chamar a polícia!
— Você é quem tentou me matar! A
faca ta aí como prova.
— É mesmo? E você acha que vão
acreditar em mim ou em você? Alguém que tem a ficha limpa versus outro que já
passou meses em um manicômio e é suspeito de ter matado a própria mãe. Todos
sabem de você, não adianta se esconder!
— Está do lado do Thales, não é?
Assume que tá fazendo isso por ele!
— Não sei do que ou quem você tá
falando. Você é louco! — começa a discar o número no interfone.
Rapidamente tomo uma atitude e tiro
o interfone das mãos dela e a seguro pelo braço.
— Eu vou. Mas deixo avisado que da
próxima vez que você tentar acabar comigo, não terei piedade em fazer isso com
você, ainda mais que tenho certeza das suas intenções. Você vai daqui direto pro inferno. Adeus,
vadia!
— Louco! Sai daqui! Volta pro
hospício que lá é seu lugar!
Eu sabia que aquilo não acabaria ali.
Ao encostar na maçaneta da porta, confirmo que ela estava trancada. De repente,
sinto uma forte apunhalada pelas costas. Marcella havia se aproveitado da
situação, pegou a faca e me atacou. Eu me sentia fraco e a olhava enquanto ria
de mim.
— Idiota! Vá para o inferno
definitivamente agora.
— Você... Você...
Eu estava agonizando no chão.
Provavelmente estava tendo uma parada cardíaca. Ditas essas palavras, fecho os
olhos e Marcella se acha vitoriosa.
— Que maravilha! Agora é só
esperar...
De repente, a sua porta é arrombada
e entram vários agentes da polícia.
— Mas o que é isso?
— Marcella Linz. A senhorita está
presa por ter sido pega no flagra cometendo um homicídio.
— Mas eu... Eu estava apenas me
defendendo. Quem foi que deu permissão pra vocês entrarem no meu apartamento?
Os agentes a seguram e um deles a
algema.
— Eu não quero ser presa! Isso só
pode ser uma confusão. Me larguem!
— Você foi pega em flagrante. Não
existe direito de defesa pra você. Provavelmente vai passar o resto da vida na
cadeia.
— O quê? Não se passa a vida inteira
na cadeia por algo assim! E além do mais, esse cara é maluco. Ele é um
assassino e louco! Me soltem!
— Sinto muito. Levem-na para dentro
do camburão direto pra delegacia.
— Quero contatar o meu advogado.
— Eu posso ser o seu advogado...
Marcella olha assustada e sente uma
mão gelada segurando sua perna. Eu estava vivo, mesmo com muito sangue
escorrendo por todo o corpo. Ela grita assustada e agita sua perna tentando se
soltar de mim. Os policiais a largam no chão e ela pede por ajuda. Quando olha,
todos estão com o corpo cheio de sangue, riem dela e começam a puxá-la pelo
braço. Era uma cena aterrorizante. Marcella gritava loucamente no meio daquele
inferno.
Ela então sente que não havia mais
mão alguma a puxando e abre os olhos. Estava deitada no chão.
— Gostou do sonho, Marcella?
— Você! — fica surpresa ao me ver
sentado na bancada sorrindo — O que você fez?
— Apenas usei o meu olhar e te fiz
sonhar um pouco — levanto da bancada e começo a caminhar — Marcella,
Marcella... Você é tão previsível e tola. Para com isso que você não leva jeito
pra ser assassina. Acha que não notei que você ingeriu cápsulas de remédios no
elevador e quando entrou no apartamento? Você tirou fotos apenas para chamar a
minha atenção, já que o seu “chefe” deve saber da minha existência. Em seguida
você forjou uma perseguição pra tentar me enganar e me trazer aqui. Só que você
não fez as coisas direito. Me trouxe direto ao seu apartamento. Que ser humano
fugiria de alguém e iria direto pra sua casa? Ainda me recebeu normalmente e me
convidou pra subir... Tudo estava planejado desde o começo, não é? Inclusive o
momento em que você fez um sinal com o porteiro para que caso realizasse duas
chamadas consecutivas pra portaria, ele deveria subir. Ao chegar aqui, você
estaria inconsciente com os efeitos dos remédios, e assim se safaria da minha
suposta morte e quem sabe até incriminasse injustamente o porteiro. Quero ver
dizer que estou errado...
Marcella mal conseguia falar e
parecia estar em pânico. Acho que ela acreditava que tinha um plano infalível
em suas mãos e estava surpresa por eu ter descoberto tudo. Ela ainda estava
chocada com o pesadelo que tinha tido.
— Você... Desde quando? Como sabe —
mal conseguia perguntar e ofegava bastante.
— Desde que você me encarou
profundamente. Aliás, você não interfonou de verdade para o porteiro. Logo, ele
não vai subir aqui agora.
— Quer dizer que... Até isso foi
ilusão? Eu não posso acreditar!
— Acredite se quiser. Agora me diga.
Pra quem está fazendo tudo isso?
Ficamos uns dez segundos em silêncio
naquele clima tenso e ela decide dizer algo.
— Que tal esquecermos tudo isso aqui
e aliviarmos as nossas tensões daquele
jeito? Prometo ser sua escrava sexual e fazer tudo o que você quiser. Pode
me bater, me humilhar, me penetrar com força...
— Cale-se! — digo em um tom alto —
Primeiro que se eu for fazer sexo com você, não irei ter pena mesmo e você
sairia no mínimo com vários hematomas e com os dois orifícios bem usados. Esse
não é meu objetivo e não caio mais na sua conversa! Anda logo e começa a falar!
— Esses olhos... Realmente é você...
É você! — dizia com um tom de voz já fraco — Sai logo daqui. A porta está aberta
e eu não estou me sentindo nada bem. Ou então me mata logo de uma vez!
— Vinte e nove minutos... Falta só
mais um minuto pra droga fazer efeito, não é?
Quero aproveitar pra dizer pra você nunca mais entrar no meu caminho e
tentar me fazer algo desse tipo. A minha vontade agora é de matar você, mas vou
deixá-la viver. Continua acobertando esse cara que você vai pro buraco junto
com ele. É uma pena que não quis dizer a verdade... Não sou o assassino que
você pensa. É o seu amigo o responsável por tudo e você parece não ver. Tenha
bons e longos sonhos...
Marcella se desequilibra e desmaia
instantaneamente. O remédio que ela tomou era na verdade uma droga usada pra
simular desmaios prolongados ou até falsas mortes. Como ela ingeriu uma boa
quantidade durante o percurso, chuto que ficaria assim por muitas horas.
Preciso aproveitar pra dar uma olhada no apartamento dela. Procurei coisas que
pudessem servir de pistas e o máximo que encontrei foi o seu celular onde ela
tinha algumas ligações não atendidas de um tal ‘Phillip Amor’. Com certeza
devia ser um dos machos dela, mas acho bom me lembrar desse nome. Pra não fazer
com que o porteiro desconfiasse e subisse ao apartamento, molhei meu cabelo e
desabotoei um pouco a camiseta. Passei pela portaria e encarei o porteiro. Ele
me olha e eu dou um sorriso e boa noite, arrumando minha camiseta. Espero que ele pense que eu fui lá pra
transar com ela e nem pense em interfonar.
Encontrei Marky lá fora e contei toda
a história no caminho pra casa.
— Ela deve ter ficado com cara de
boba depois que descobriu que era apenas um sonhos, não é?
— Ela ficou tão tensa... Acabei
tendo que usar isso outra vez e já tenho noção que aqueles efeitos colaterais
podem vir amanhã. Ainda bem que é fim de semana.
— Lembra o que aconteceu na última
vez?
— Lembro sim... Anne adorou isso,
mas enfim... Vou torcer pra o efeito não vir ou eu conseguir um controle. Pelo
menos vou estar sozinho em casa. Evite me visitar amanhã. Isso é tudo por conta
da minha falta de domínio total ainda...
— Mestre... Não se culpe tanto e tome
muito cuidado a partir de agora. Esse cara deve fazer o possível pra te matar.
— Preciso que ele dê as caras. Ficar
mandando “pombo-correio’ pra fazer as coisas por ele é bem chato.
— Agora a pergunta que não quer
calar... Por que não matou a Marcella?
— Algo me diz que ele mesmo fará
isso, oportunamente.
— Como sabe disso?
— Apenas uma sensação. Queima de
arquivo, provavelmente.
— Descobriu mais alguma coisa?
— Na verdade, eu percebi algumas coisas... Esse
reencontro desagradável com a Marcella... Todos que estudaram comigo de alguma
forma devem estar protegendo aquele cara. Mas, tem algo errado nessa
história...
— Mestre...
— Devo dizer adeus à piedade a
partir de agora e se for necessário... Preciso eliminar cada um que tentar
fazer algo como ela. Eu podia nem estar aqui falando com você agora se o plano
dela tivesse funcionado.
— Nem diga uma coisa dessas. E se
todos os seus ex-colegas de faculdade agirem dessa forma?
— Todos serão eliminados... Um por
um.
Ficamos em silêncio após eu ter dito
isso. Até eu achei que ficou pesado, mas foi o que senti no momento. A partir
daquele momento, a minha existência provavelmente não era mais segredo e nunca
se sabe o que aquela mulher poderia fazer. Fiquei pensativo durante todo aquele
fim de semana. Cheguei até a pensar se a Marcella tinha acordado. De novo esses
pensamentos caridosos e bondosos. Não posso sentir isso por alguém que não vale
nada. Aliás, os malditos efeitos colaterais não vieram. Isso é muito bom. Acho
que já estava conseguindo me controlar.
A semana
começa e volto ao trabalho. Logo cedo, encontro Anne toda feliz e saltitante na
porta da empresa.
— Hoooooneeeeey! Bom dia!
— Bom dia. Quanta felicidade hoje
hein. Já pensou em vender, alugar, dar e leiloar?
—
O casamento da minha irmã foi um arraso. A cerimônia foi linda e a festa melhor
ainda.
— Imagino que você deve ter se
exibido ao extremo, pra variar.
— Ai, não fala assim. Bem, de certa
forma... Consegui conquistar um cara.
— E foi pra cama com ele na mesma
noite? Assim você deve desencanar de mim agora, não é?
— Não! Ele era ótimo, mesmo perdendo
pra você em alguns quesitos. Mas o que me deixou feliz foi por ter sido
elogiada pela mãe do noivo. Ela trabalha com moda há muito tempo e disse que eu
estava linda e tinha a jovialidade de uma garota adolescente. Ganhei minha
noite!
— Será que ela não quis dizer que
você era tão imatura quanto uma adolescente e você entendeu errado?
— Não seja grosso — me dá um tapa no
ombro — Eu fui elogiada e fiz sucesso na festa. A gente podia até comemorar hoje à noite na minha ou na sua casa, o que acha?
— Sem chances, espertinha...
— Difícil, mas uma hora consigo. Aliás, me conta
vai, como foi a reunião com o James?
— A reunião... Meu Deus!
Depois de tudo que havia acontecido
eu lembrei que tinha esquecido todos os papéis do projeto aquele dia por ter
saído com pressa atrás da Marcella. Passei o fim de semana sem nem lembrar
isso. E agora?
— O que houve?
Antes que eu pudesse dizer qualquer
coisa, ao chegar à recepção, nos deparamos com James. Ele estava com a pasta e
sorri ao me ver. Meu coração dispara nesse momento. Com certeza era por conta
da tensão que passei.
— Leo! Bom dia! — ele vem na minha
direção com aquele sorriso fantástico. Para de sorrir, caralho!
— Bom dia!
— Desculpe não te avisar sobre a
pasta, mas preferi vir te entregar pessoalmente aqui logo pela manhã. Espero
não ter te deixado muito preocupado.
— Obrigado. Sem problemas. Eu sabia
que ela devia ter ficado com você por eu ter saído na correria aquele dia.
— Aliás, vi o projeto novamente e
queria falar com você sobre algumas coisas. Tem tempo?
— Tenho sim. Quer conversar na minha
sala?
— Tudo bem por mim.
—Anne, estou indo conversar com o
James sobre o projeto — apresento um ao outro e mostro a ele o caminho da minha
sala.
Chegamos à minha sala e peço a James
que se sente. Ele observa tudo atentamente e comenta que eu parecia ser uma
pessoa que gostava de organização.
— De fato... Mas, o que você queria
falar sobre o projeto?
— Bem... Eu já até conversei com o
seu chefe a respeito e ele concordou. Irei trabalhar com você durante o período
de execução do projeto. Quero ficar a par de tudo.
— O quê? Mas... Mas você entende
alguma coisa de arquitetura, construções e coisas do tipo?
— Sou formado em arquitetura também —
essa foi bem na minha cara.
— Ah, certo... Me desculpe. Segundo membro da
equipe, seja benvindo! — estendo a minha mão.
James sorri e aperta minha mão. De repente sinto
algo estranho invadindo todo o meu corpo. Era o efeito de ter usado o olhar
aquele dia. Não é possível que tenha vindo dois dias depois! Meu corpo estava quente
e eu já estava ofegante. James vira de costas para pegar algo em sua pasta e
observo. Ele tinha uma bunda bem redonda e grande. Espera! Não posso pensar
nesse tipo de coisa. Ele é um homem e estou no trabalho. É esse maldito efeito
colateral. Droga! Preciso me controlar ou então vou ter que sair correndo dessa
sala.
— Eu queria até te dar uma ideia...
— Você poderia me dar outra coisa... Que tal? — tapo
a minha boca instantaneamente.
James olha surpreso e eu estava com a boca tapada e
morrendo de vergonha. Meu Deus! O que eu tinha acabado de falar?
[CONTINUA...]