[O Último Virtuoso] Capítulo 3 - James Dupont
“Nunca se
esqueça de que a multidão que aplaude o seu coroamento é a mesma que aplaude a
sua decapitação. As pessoas gostam de show.” Autor Desconhecido.
Em meio aquele clima de tensão e com meu coração
mais acelerado que os meus jatos de... Bem, acho que não é a melhor hora pra
brincadeiras, mas eu sou sempre assim. Quando estou nervoso acabo tentando
brincar comigo mesmo mentalmente. Só que não tá resolvendo e estou com vergonha
de continuar encarando esse cara. Ele não desvia o olhar e isso tá muito
estranho! Estendo minha mão para cumprimentá-lo e ele se levanta e segura
fortemente. Droga! E o pior é que gosto de apertos de mão firmes. Trazem certa segurança.
— Sou James Dupont. Um dos
investidores e gerente chefe da empresa ‘Soldi
& Successo”. E você, belo rapaz, quem é? — Ele me chamou de belo rapaz?
Vou ignorar o “elogio” e tomar muito cuidado. Anne me disse que esse cara era
bem temperamental.
— Sou Leo Cavallini — disse isso morrendo
de vergonha e com medo de estar com a face mais vermelha que um tomate.
— Muito prazer em conhecê-lo, Leo.
Bem... Podemos nos sentar para conversarmos?
— Ah... Claro, claro!
O garçom aparece e pergunta se
queremos algo. James rapidamente me pergunta se quero algo e eu digo ao garçom
(porque quem vai trazer a bebida pra mim é ele) que aceitava uma soda com gelo.
James pede uma dose de uísque. Isso mesmo! Não entendi a necessidade, mas eu
mal conhecia o cara então preferi não falar nada. Assim que o garçom sai, ele
volta a me olhar fixamente e começa a falar sobre o projeto. Ele pede pra olhar
a pasta com o mesmo e fica mais ou menos uns cinco minutos em silêncio lendo e
avaliando.
— Interessante! Então vocês estão
querendo projetar uma edificação capaz de realizar vários tipos de eventos.
União de um bom design, conforto e economicamente não gastando pouco e nem
muito, sem contar a inclusão e a preocupação com a sustentabilidade... Você é
quem vai ficar a frente desse grandioso projeto?
— Não serei só eu, mas o comando acabou
me sendo designado. É bem provável que tenha duas ou mais pessoas trabalhando
junto comigo.
— Projeto aprovado! Preciso só
assinar esses papéis aqui e você assina também esses que irei te passar agora.
O que estava acontecendo? Esse cara
aprovou o projeto em menos de dez minutos. Tinha algo errado ali. Segundo o que
me disseram ele é conhecido por dificilmente aprovar algo. De certa forma, devo
admitir que achei o projeto ótimo também e não comentei, mas uma parte dele foi
ideia minha em uma das reuniões com a equipe.
Depois de muito assina pra cá,
assina pra lá, finalmente o negócio estava fechado. Eu agradeci e já estava
prestes a me levantar para ir pagar a minha conta. Aperto a mão de James e ao
perceber que eu iria embora, ele segura firmemente e diz:
— Eu sei que já fechamos o negócio
do projeto e tudo, mas... Fique mais um pouco, por favor. Podemos jantar e
conversar um pouco mais.
— Bem, eu... — é aí que me dou conta
de que precisava fazer algumas perguntas, que, aliás, era o motivo de eu ter
aceitado comandar o projeto pela Anne e vir nesse jantar — Claro, claro. Uma
boa ideia.
James sorri e chama o garçom. Devo
dizer que aquele cardápio tinha algumas coisas estranhas que eu não conhecia.
Decidi pedir apenas uma macarronada e um peito de frango ao molho madeira.
James pede algo com o nome em francês, que eu nem perguntei o que era. Nesse
momento eu ficava me perguntando como iria introduzir o assunto que me
interessava.
— Pois bem, Leo... Agora não
precisamos mais falar de negócios. Podemos conversar informalmente sem problema
algum. Então me diga, você é solteiro?
Essa pergunta não me pareceu ser
feita com as melhores das intenções, mas eu respondi.
— Sou sim. Nunca namorei alguém.
— Mesmo?
— Exatamente. Acho que não dou certo
pra essas coisas. E você? Tem uma cara de casado.
— Não, não. Já namorei algumas
vezes, mas nunca achei alguém que me fizesse sentir algo maior... Até agora
pouco.
— É um sentimento muito estranho.
Prefiro não tê-lo.
— É mesmo? Seu olhar diz outra coisa
— toma mais uma dose de uísque e sorri logo em seguida. E que sorriso!
Mas... O que esse cara estava
falando? A única coisa que meu olhar mostrava é o quanto eu detesto pessoas. E
ele não iria fugir dessa minha regra. Estava conversando comigo ali numa boa
porque acabamos de nos conhecer. Quem garante que você não vai se transformar e
revelar sua verdadeira face? Não confio e
ponto.
— Não entendi o que você quis dizer —
joguei essa pra ver o que esse cara queria.
— Simples. Eu gostei de você, me parece um bom
rapaz.
Demorei pra processar essa informação. Como alguém
pode gostar de mim? Cara, você não entende que eu não quero saber de ninguém. A
única pessoa com quem tive contatos mais íntimos até hoje foi a Anne e pronto.
Tudo sem compromisso e sem sentimento algum da minha parte.
Depois de alguns segundos em silêncio, eu apenas dou
uma risada e mudo o assunto.
— Você é um cara engraçado, James. Mas, me diga...
Conhece alguém da sua empresa chamado Thales Denford?
— Thales Denford? Nunca ouvi falar em alguém com
esse nome. Porque a pergunta?
— Impossível! — acabo soltando essa num tom um pouco
exaltado, mas logo me acalmo e continuo a conversa — Bem, é um colega de
faculdade. Eu soube que ele trabalhava lá.
— Sabe a função dele?
— Não... Mas sei que ele participou ano passado da
festa de fechamento de ano.
— Essa festa só é permitida aos membros da empresa.
Eu estava nessa festa, aliás.
— É mesmo? Posso te descrever como ele é. Quem sabe
você conheça ou já tenha visto.
— Quem sabe... Mas ainda não entendi o motivo de
toda essa euforia pra encontrar esse tal Thales.
— Preciso falar algumas coisas pra ele — quem dera
se fosse só falar — Ele é mais alto que eu, tem um cabelo liso meio jogado pro
lado e castanho. É magro e tem um olhar estranho. Denford... Não se lembra
desse sobrenome?
— Olha... Denford eu realmente não conheço. Mas
alguém que eu me lembre com essas características tem o sobrenome de ‘Millford’.
É isso! Como eu não pensei antes nessa
possibilidade? É óbvio que aquele cara deve ter mudado o nome. Isso se o nome ‘Thales
Denford’ não era o falso... Quanta coisa pode ser.
— E qual o nome dele?
— Desculpe, mas não posso te passar esse tipo de
informação, Leo. Você me parece bem curioso, mas no momento seria expor demais
um colega de trabalho.
— Entendo... — e entendia mesmo já que não é normal
ficar falando da vida de alguém assim.
Ficamos em silêncio por alguns segundos e ele me
observava. Nossos olhares se cruzaram e eu não desviei dessa vez. Meu coração
acelerou e fiquei tenso. James tinha olhos castanhos e eu me perdi neles por
alguns instantes. Que sensação era essa? De repente o garçom chega com o
jantar. Que rápido! Mas foi suficiente para ambos ficarmos sem graça e algo me
diz que o garçom já tinha percebido algo ali. Só eu que não?
Começamos a jantar e aquela comida estava perfeita!
Notei que o James tinha um jeito bem delicado de segurar os talheres e aquilo
me chamou atenção. Mas algo me chamou mais atenção ainda. Uma mulher que estava
tentando se esconder por trás de uma planta e tirava fotos. Ela percebe que eu
havia notado e no desespero acabo vendo quem era. Eu a conhecia! Era Marcella Linz.
Ela provavelmente era assistente social nos dias de hoje, se tivesse seguido a
risca o seu curso. Noto o desespero dela em ir embora e me levanto da mesa.
— James! Preciso ir embora pra resolver um assunto
urgente. Peço mil desculpas por isso. Aqui está o meu cartão com o meu número.
Obrigado por tudo e aqui está o dinheiro pra pagar tudo.
— Leo...
Eu me senti péssimo por isso e poderia estar
arruinando o futuro do projeto. Mas eu precisava ir atrás dessa mulher e
descobri o motivo dela estar tirando fotos do meu jantar com o James. Eu já estava
na rua e a vi entrando em um carro preto. Marky chegou ao meu lado e entrei
rapidamente no carro.
— O que houve mestre?
— Siga aquele carro! Aquela mulher estava tirando
fotografias durante o jantar e se assustou quando a vi. E o pior de tudo... Eu
a conheço dos tempos de faculdade. Ela deve saber algo com certeza!
Marky colocou o pé no acelerador e a Marcella não
parecia estar se preocupando com limites de velocidade ou algo do tipo. Se
estava fugindo era porque aí tinha. Quem não deve, não teme. Sempre fico tão
pensativo quando estou dentro do carro. Quando alguém está dirigindo pra mim,
porque não curto dirigir. Reprovei na prova prática duas vezes. Não entendo
como alguém pode sentir prazer em pegar num automóvel. E nesse momento, James
vem a minha cabeça. O que será que ele estava pensando? Aliás... O projeto!
Deixei o projeto com ele! Droga! Mas agora não podia mais voltar. Estávamos no
meio de uma perseguição.
O carro em que Marcella estava de repente desvia e seguimos
o movimento. Por conta disso, quase batemos de frente a um poste. Ainda bem que
Marky sabia dirigir muito bem. Se fosse eu... Nem quero imaginar.
— Mestre, ela está parando.
Para a nossa surpresa, Marcella para o carro em
frente a um prédio. Eu pedi à Marky para me esperar e desci rapidamente. Seguro
no braço dela e a viro para que olhasse em meus olhos.
— Leo!
— Marcella... Por que estava tirando fotos de mim?
— O que você está dizendo? Eu estava fotografando o
local e...
— Menos! Fez aulas de falsidade e dissimulação com o
Thales? Isso o envolve, não é?
— Do que você está falando? Não sei quem é esse.
— Para com isso! Você sabe muito bem de quem eu
estou falando! O Thales que me apresentou você e nós saímos em trio algumas
vezes. Pare com esse teatro!
Nesse momento eu estava segurando nos ombros da
Marcella e a olhava fixamente. Ela estava um pouco ofegante e eu a soltei.
— Bem... Podemos conversar no meu apartamento... Te
conto o porquê de tudo lá em cima.
Acho que ela não havia percebido que eu estava
acompanhado e decidi me aproveitar dessa situação e aceitei subir. Fiz um sinal
à Marky para me esperar. Chego ao apartamento da Marcella e era um local
normal. Não era um poço de luxo, mas era muito bem arrumado. Ela me convida pra
sentar e traz alguns drinks. Recuso e ela se senta no sofá em frente ao que eu
estava.
— Você mudou. Está com um ar tão mais confiante e
decidido. Não entendo como eu nunca reparei em você dessa forma na época da
faculdade...
— Porque você era uma burra e cega com o Thales,
mesmo sabendo que ele não te curtia. Eu também não, mas isso não vem ao caso agora.
Porque estava tirando fotos?
— De novo isso... Tá com medo de eu expor que você
estava em um encontro com seu namorado?
Nesse momento eu sinto algo estranho e logo
respondo.
— Ele não é meu namorado! É o gerente de uma empresa
que eu estava fechando negócios!
— Calma... Você é sempre tão exaltado — levanta e
começa a se aproximar de mim — Eu sempre tive as minhas desconfianças em
relação a você... Que tal me mostrar o contrário agora?
Marcella abre o zíper da jaqueta e de repente seus
seios saltam pra fora. Não me lembro dela ter algo assim. Silicone? Eram muito
bonitos e quando menos percebi, ela sentou no meu colo. Que situação era
aquela?
— Marcella, eu não vim falar com você pra isso...
— Não diga nada. Apenas faça o que se é pra ser
feito. Estou com muito tesão. Quero que você me faça cavalgar. Eu sou a cowgirl e você o cavalo. Vamos, vamos, seu
gostoso!
Eu já estava excitado com toda a situação e ela
estava roçando desde que havia sentado no meu colo. Como estava com uma saia
curta, sentia a sua... Nossa! O que eu estava fazendo? É aqui que a minha
cabeça dói rapidamente e minha visão fica estranha por alguns segundos. Quando
volto ao normal, percebo que aquela vadia estava com uma faca na mão esquerda e
quando ia cravar em minhas costas eu a empurro no chão.